Buddy Guy, 29/11/09, Praça da Independência
São Paulo, de graça!!
Buddy Guy - Guitarra e Vocal
Infelizmente desconheço o resto da banda... Se alguém souber me informe.
Após toda a loucura da noite de sábado. Acordamos tarde no domingo, já arrumando as coisas pra ir embora. Só tínhamos reserva até aquele dia na pousada, e como eu só iria embora segunda, teria que dormir no aeroporto. Não me importava mesmo, pois pra mim a aventura ainda não tinha terminado.
Fomos para o aeroporto de congonhas, onde me despedi dos meus amigos e fiquei sozinho na terceira maior cidade do mundo. Me informei onde poderia guardar minhas malas, como faria pra chegar na praça da independência e quanto isso iria me custar, pois já estava com pouca grana.
Me informaram um ônibus que eu poderia pegar, mas após quase uma hora na parada, não teve jeito de passar esse por ali. Sabia que o evento já estava quase começando e que precisava agir rápido. Tive que chamar um taxi para não perder nada do Buddy Guy. O taxista, como quase todos os outros, era muito legal. Me deu várias informações, mas me disse que era longe e que iria custar mais de 40 reais pra eu chegar lá. Me tinham sobrado apenas 50. Seria difícil sobreviver o resto do dia, mas não era problema.
Felizmente, como fiz amizade com o motorista, ele me deu um desconto e acabei pagando só 30 reais pela carona. E o cara ainda conseguiu chamar na rua pessoas para me ajudarem a chegar no lugar certo do show. Três jovens que eram de Coritiba, que também tinha vindo para o show do AC/DC e estavam aproveitando o evento gratuito na praça.
Procurando a entrada para o evento já ouvíamos uma música vindo do palco, mas isso não era possível, já que o começo do show só estava marcado para as 18:00 e ainda era 17:20. Após vários minutos caminhando, conseguimos encontrar o local que se entrava mesmo na praça, e assim tivemos a bela visão de um enorme palco, milhares de pessoas e uma organização invejável.
O que estava acontecendo aquele dia em São Paulo era a terceira edição do Tefefonica Open Jazz, um evento cultural gratuito que acontece todos os anos em novembro na capital paulista. Se viam vários policiais, muitos banheiros, a distribuição de bonés e camisetas e o mais importante: água gelada e graça! Pois o calor estava realmente muito forte. Era um lindo dia de verão, com uma brisa agradável e uma assustadora previsão de chuva.
O som que vinha do palco logo foi explicado pelo papel que me foi entregue na entrada da praça. Eram dois shows, o primeiro da cantora de Jazz/Soul Dianne Reeves e o segundo do mestre do blues Buddy Guy. Outra bela surpresa nessa viagem cheia delas! Veria também uma das maiores vozes femininas do jazz! Inacreditável.
Infelizmente o show dela já estava no fim e o calor era muito forte, me joguei embaixo de uma árvore com os paranaenses que tinha conhecido a pouco e ficamos de longe curtindo os minutos restantes de jazz. Tenho que dizer que foi incrível! Ela tem uma voz perfeita e uma banda que não esperava ver mesmo. Jazz de excelente qualidade.
Acho que tive a sorte de pegar a melhor parte do show, quando os músicos estava sendo apresentados, pois todos tiveram a chance de improvisar bastante. Inclusive ela, que seguia a melodia deles com sua voz incrível!
A Dianne Reeves saiu de cena e levou o sol junto, nuvens escuras e bem carregadas começava a dominar o céu de São Paulo, aliviando o calor mas trazendo o medo de chuva. Não estava preparado pra isso, tinha o celular, a câmera e a carteira nos bolsos e usava a roupa que pretendia ficar até chegar em Santa Cruz.
Não teve jeito, quando o tecladista subiu ao palco e anunciou "Mr. Buddy Guy" a chuva veio, e com toda a força. Felizmente não foi nada que atrapalhasse o show, mas não tinha como me proteger, já que não poderia me dar um luxo de comprar um capa. O jeito foi tapar os bolsos com minhas mãos e curtir o blues.
Buddy Guy com seus mais de 70 anos se mostrou em total forma de fazer um show incrível. Com sua tradicional roupa de bolinhas, sua fender e seu estilo irreverente de solar, usando baquetas, pedestais, dentes, língua, barriga e tudo mais que puder fazer um som diferente. Tocou os grandes clássicos do blues como Hoochie Coochie Man e Boom Booom Boom Boom, músicas que eu ouvia em casa e nunca imaginei que um dia poderia ver ao vivo.
O momento alto da chuva foi realmente a música que fala sobre ela, Feels Like Rain foi tocada com a participação especial da Dianne Reeves, que voltou ao palco para duelar com Guy e sua guitarra. Foi maravilhosa mesmo a apresentação dos dois com aquela chuvarada que não dava trégua.
Confesso que demorei pra acreditar que era realmente o Buddy Guy no palco, pois pra mim era um músico que eu nunca teria a chance de ver ao vivo, já que ele costuma fazer apenas shows nos Estados Unidos e praticamente só em festivais de blues. Mas, ele estava ali e dando um baita show! A chuva não diminuía a animação das mais de 10 mil pessoas que estava na praça, o único problema mesmo era a grande divisão que tinha entre o palco e o lugar onde estávamos.
Existia uma área vip naquele evento, mas não tinha quase ninguém lá, e isso fazia ter uns 10 metros de vazio entre o palco e o povo, deixando as coisas mais frias. Eram só umas 50 pessoas que ficavam na frente do palco curtindo o melhor lugar do mundo para ver o Buddy Guy. Mas, ele certamente não gostou muito disso, e logo quando a chuva parou, resolveu chegar mais perto do grande público, descendo do palco e vindo em nossa direção! Mestre.
Outros clássicos do blues foram tocados, como Sweet Home Chicago e a calminha Strange Brew, que marcou a saída do palco do blues man. Mas, claro que ele voltou pra encerrar o show com chave de ouro, fazendo uma homenagem a grandes guitarristas: Eric Clapton e Jimi Hendrix, deus discípulos. Tocou uma jam misturando Voodoo Child e Sunshine of Your Love, trazendo até a claridade para marcar o final do show. Nunca vou esquecer de ver um raio de sol indo exatamente em direção ao Buddy Guy e iluminando aquele velho homem feliz que abanava pros milhares de fãs molhados que estavam naquela incrível tarde na praça da independência em São Paulo.
Aos poucos todos foram saindo da praça e fui eu pra mais um desafio: Conseguir voltar para o aeroporto. Estava com medo, pois aquele lugar da cidade não era dos mais seguros, e tive que passar por várias ruas estranhas e assustadoras, mas em todo momento fui ajudado bastante pelos paulistas, que ficavam felizes em me explicar como tinha que fazer para chegar até uma parada e qual ônibus pegar.
Deu tudo certo, consegui voltar para o aeroporto, e tive que pegar minha mala para me trocar, tirar a roupa molhada e colocar uma seca, pra passar pela última parte da grade aventura: Dormir no aeroporto e pegar o avião as 6 horas da manhã do dia seguinte. Pouca grana e nada de bateria em todos os meus aparelhos eletrônicos, tava complicada a minha situação. Foi uma noite de muito tédio e poucos momentos de descanso. Mas, deu tudo certo e voltei para Porto Alegre na manhã seguinte, pegando logo um trem para a rodoviária, um ônibus para Santa Cruz e outro para casa.
Foram 4 dos melhores dias da minha vida, curtindo muito rock and roll, conhecendo muita coisa nova e me divertindo bastante. Fico muito feliz de lembrar daquilo, e ver como foi ótimo! As partes difíceis agora são engraçadas e as partes boas vão ficar pra sempre na minha memória.
E nunca mais mesmo vou ousar falar mal da cidade de São Paulo, pois ela esbanjou cultura, segurança, bom humor e alegria!
Infelizmente também não sei o set list exato do show da Dianne e do Buddy Guy ... Bem, Fim! =D