segunda-feira, 19 de março de 2012

We come into your town, we'll help you party down. We're an American band!

Mark Farner, The Loco-Motion Tour, 11/03/12, Opinião
Porto Alegre, Pista: R$ 80,00

Mark Farner - vocal, guitarra e teclado
Karl Propost - teclado, percussão e vocal
Lawrence Buckner - baixo e vocal
Hubert Crawford - bateria

      Na minha opinião, não há dúvidas que nos anos 70 chegamos ao extremo da criatividade musical. Depois de lá, tudo foi copia ou não superou o que já havia sido criado. Bem, nessa década mágica, milhares de bandas surgiram, e nem todas são lembradas como deveriam. Uriah Heep, Yes, Alice Cooper, Rush, Bad Company, Boston, America, Nektar, King Crimson... Bah, poderia citar aqui centenas. Mas, vou dar destaque pra uma que é incrível, pra mim chegando ao mesmo nível de Deep Purple, Sabbath e Zeppelin, só que como surgiu nos Estados Unidos, não foi tão lembrada e exaltada como as inglesas.

       Grand Funk Railroad, um power trio de Michigan, surgiu no final dos anos 60 e nas terras americanas fez muito sucesso. Lançaram vários discos incríveis, emplacando vários hits e músicas que até hoje fazem pessoas enlouquecerem. Formado por Mark Farner (vocal e guitarra), Don Brewer (bateria e vocal) e Mel Schacher (baixo) chegaram até ao primeiro lugar das paradas dos Estados Unidos com a música The Loco-Motion, em 1974. A banda lançou o último disco em 1983, após isso só coletâneas e ao vivos. O grande momento deles, pra mim, foi com o álbum E Pluribus Funk, de 1971. Para conhecer a banda, legal é baixar o live in Bósnia, de 1997, show que conta com uma orquestra.

       Depois dessa introdução, vamos ao que interessa, o vocalista e guitarrista do Grand Funk hoje faz shows pelo mundo inteiro tocando músicas de sua carreira solo (pouco conhecida) e, principalmente, clássicos de sua banda. E nós aqui do sul tivemos a chance de vê-lo bem de pertinho no Opinião, ali em Porto Alegre. Estive lá para conferir, curioso para ver como estaria uma pessoa que a tanto tempo não se ouvia falar e não produzia nada de interessante. Estava com medo de que fosse me decepcionar, e errei feio. Foi um show incrível, com todos os clássicos que gostaria de ouvir em um show do Grand Funk executados de forma perfeita tanto pelo Mark com seus 63 anos, quanto por sua incrível banda que o acompanha a vários anos.

       Chegando as 21h no Opinião, com o show marcado para começar as 22h, achei que não conseguiria chegar perto do palco. Outro erro. Tinha lugar até para ficar escorado nele! Não tinham nem 15 pessoas na pista do local, e poucas se posicionavam na parte das mesas, mais perto do bar. Fiquei assustado, pensei que seria um público vergonhoso. Mesmo com poucas pessoas conhecendo o Grand Funk, esperava mais. A abertura ficou por conta da banda gaúcha Cattarse que deu um belo show! Também é um power trio e tocam com muita identidade e presença de palco. Vale a pena conhecer. Após o termino da apresentação inicial, o público começou a aumentar, e já garanti meu lugar na frente do palco. Chegando no horário que estava previsto para começar, a pista já estava cheia e eu mais tranquilo, pelo menos vergonhoso não seria.

        As luzes se apagaram com poucos minutos de atraso, e o público já mostrou que seria barulhento, gritos de “Farner, Farner” encheram o Opinião, logo o homem foi anunciado e apareceu no palco, dançando e pulando. Parecia extremamente animado de estar ali, e adorando ouvir seu nome sendo exaltado por pessoas de um lugar tão longe de sua casa. Mark deu inicio ao show com a pergunta clássica do Grand Funk para suas grandes plateias ao redor do mundo: Are You Ready? Muito peso e uma voz perfeita, como aquela que ele tinha nos anos 70. Uma incrível surpresa. A ressaca que eu estava naquele domingo sumiu na hora e já comecei a pular, cantar e balançar muito a cabeça, como todos os outros que estavam lá.



       O show no seu começo não parou um segundo, terminava uma música e vinha logo a outra. A segunda foi Rock 'n' Roll Soul, seguida por uma das minhas preferidas: Footstompin' Music (que abre o cd que recomendei antes), quando o Mark larga a guitarra e vai solar no teclado. Ainda sem parar, veio um dos grandes clássicos, We're An American Band. Ai uma pequena parada pra respirar, dar oi pro público e logo mandar outros sons com todo o peso. Mr. Limousine Driver e Paranoid não davam tempo de ninguém descansar. E o não precisava, pois o velhinho com mais de 60 anos estava no palco fazendo dancinhas, desfilando com sua guitarra e interagindo com o público e com sua banda o tempo todo.

       Mas, como toda a banda de Hard Rock dos anos 70, o Grand Funk também tem suas baladas. E elas são lindas! A primeira veio pra nós descansarmos os pés e a cabeça e cantar bem alto. Mean Misstreated fez pessoas chorarem de emoção. Execução perfeita com Mark no teclado e com a voz a toda. Voltando ainda sem todo o peso com Shinin' On e, ai já a toda, com a minha preferida: Sin's a Good Man Brother. Foi o auge do show, na minha opinião. Música incrível com muito progressivo, jazz e funk. Me lembrou todas as vezes que vi meus amigos da banda Predadores, aqui de Santa Cruz, fazerem um baita cover desse som. Vários solos e falsos finais de um momento que podia nunca acabar mesmo. Mark matou a pau nessa hora, e todo o público concordou com isso, o louvando e gritando novamente seu nome com toda a força.

       Depois de todo esse progressivo, vieram as três músicas mais pops do Grand Funk: Bad Time, Locomotion e Some Kind of Wonderful, fazendo todo público cantar, bater palmas e participar dos momentos de interação que o Farner parece adorar fazer. Vale destacar o baixista que com seu baixo de 5 cordas e baita voz não deixava ninguém sentir saudades dos outros dois integrantes originais da banda setentista. Encerrando a primeira parte do show, outra balada, essa a que eu mais gosto: Heartbreaker fez novamente o opinião cantar com toda a força e aplaudir os lindos solos do Farner.

       Após isso, aquela rápida saída, e o público voltou com os “Farner, Farner”. Do intervalo volta só o baterista, hora de um baita solo! No começo, só ele matando a pau, até que vem ao palco o Mark Farner e o tecladista, que também fazem uma percussão. Excelente essa parte. Das baquetas que foram jogadas, cheguei a encostar em uma, mas não peguei, como sempre. A música volta com Inside Looking Out, um cover de The Animals, e o show encerra da maneira mais clássica que existe: I'm Your Captain (Closer To Home). O público ficou cantando o final da música “I'm getting closer to my home” como se fica no final de um show do Paul McCartney com os “Na, na, na, nanana Hey Jude”.

       Farner e sua banda se despediram do público gaúcho felizes como o público gaúcho se despediu de Farner e sua banda. Muitos aplausos, e aquela vontade de que não tivesse acabado. Show surpreendente merecedor de muito mais gente do que recebeu. Mas, os presentes lá nunca vão esquecer, como espero também que Mark nunca esqueça de como foi o show aqui, e talvez volte um dia.


Set List
Are You Ready
Rock 'n' Roll Soul
Footstompin' Music
We're An American Band
Mr. Limousine Driver
Paranoid
Mean Misstreated
Shinin' On
Sin's a Good Man Brother
Bad Time
Locomotion
Some Kind of Wonderful
Heartbreaker

Encore
Inside Looking Out
I'm Your Captain (Closer To Home)


      Agradecimentos especiais ao Marcio Nicknig (companheiro de Vales Independentes) pelas fotos e a Karlos Zilch pelo Set List que ele teve a sorte de receber.